A Sociedade das Flores foi um projecto que abortou. Um espectáculo teatral que não passou de uma incipiente fase de ensaios. Tentámos ressuscitar um cadáver esquisito e o resultado foi um nado-morto. Nada de mais nem de menos. Apenas aquilo, exactamente. Aqui fica um excerto, um monólogo que ainda foi dito e ensaiado uma mão-cheia de vezes pelo André Louro. Apeteceu-me colocar isto no Carapau Staline. Outros textos virão, lá mais para a frente. Não é por nada, mas escrevi estas linhas e não passaram completamente para o "outro lado". Que passem agora.
Homem-que-é-fogo arde!
Não fumes,
não bebas,
não comas demasiado.
Olha o colesterol!
Não circules sem o cinto de segurança,
não deixes a porta do prédio aberta,
não ponhas o cãozinho a cagar no passeio.
Vives em comunidade… és um ser civilizado!
Respeita o teu vizinho,
respeita-te a ti mesmo,
recicla o teu lixo.
De onde vêm tantas regras,
Que espécie de deus dita tais mandamentos?
É o “senso comum” mas o “senso comum” nada tem de divino!
Longe disso.
Quero fumar, beber, quero comer como um alarve, quero rebentar no excesso e no prazer de o fazer!
Quero sentar-me à mesa do banquete com deuses macabros por companhia.
Alegre e devassa companhia!
Todo o ser vivo não é mais que um moribundo.
A vida é feita para entreter a morte e a morte é mais que certa!
Quero cagar ao lado do meu cão, ali mesmo defronte à porta do meu prédio, perante o olhar inquieto do vizinho do rés-do-chão-frente a procurar na tremura de um gesto o telemóvel para chamar a polícia, os bombeiros, o 112, a protecção civil, a puta que o há-de parir… quero fazer tudo o que me passar pela cabeça e ter ainda tempo para imaginar coisas impossíveis de fazer… e fazê-las!
Ah, como me sufocam a gravata e o fato da Massimo Dutti!
Os sapatos de pele de crocodilo arruínam-me os calos e o after-shave, meu deus, o after-shave leva-me à loucura, provoca-me náuseas, faz de mim um animal enjaulado numa nuvem de agradável odor, faz de mim uma coisa que eu não sou.
É urgente economizar, é necessário abrir uma conta bancária, ter um ecrã plano e uma esposa esbelta e bem vestida para exibir nas festas da empresa.
Quero ser invejado não quero sentir inveja!
Não fumes,
não bebas,
não comas demasiado.
Olha o colesterol!
Não circules sem o cinto de segurança,
não deixes a porta do prédio aberta,
não ponhas o cãozinho a cagar no passeio.
Vives em comunidade… és um ser civilizado!
Respeita o teu vizinho,
respeita-te a ti mesmo,
recicla o teu lixo.
De onde vêm tantas regras,
Que espécie de deus dita tais mandamentos?
É o “senso comum” mas o “senso comum” nada tem de divino!
Longe disso.
Quero fumar, beber, quero comer como um alarve, quero rebentar no excesso e no prazer de o fazer!
Quero sentar-me à mesa do banquete com deuses macabros por companhia.
Alegre e devassa companhia!
Todo o ser vivo não é mais que um moribundo.
A vida é feita para entreter a morte e a morte é mais que certa!
Quero cagar ao lado do meu cão, ali mesmo defronte à porta do meu prédio, perante o olhar inquieto do vizinho do rés-do-chão-frente a procurar na tremura de um gesto o telemóvel para chamar a polícia, os bombeiros, o 112, a protecção civil, a puta que o há-de parir… quero fazer tudo o que me passar pela cabeça e ter ainda tempo para imaginar coisas impossíveis de fazer… e fazê-las!
Ah, como me sufocam a gravata e o fato da Massimo Dutti!
Os sapatos de pele de crocodilo arruínam-me os calos e o after-shave, meu deus, o after-shave leva-me à loucura, provoca-me náuseas, faz de mim um animal enjaulado numa nuvem de agradável odor, faz de mim uma coisa que eu não sou.
É urgente economizar, é necessário abrir uma conta bancária, ter um ecrã plano e uma esposa esbelta e bem vestida para exibir nas festas da empresa.
Quero ser invejado não quero sentir inveja!
Quero?
Quero!!!
Quero ter esta inveja ao contrário que é parecer aquilo que não posso ser.
Caraças, quero… quero… eu quero…
(ouvindo uma voz, responde)
Sim, está quase pronto, é só um minuto, concerteza, desculpe, estava distraído, é para já, só um minuto, um minutinho apenas… estou quase, quase!
Caraças, quero… quero… eu quero…
(ouvindo uma voz, responde)
Sim, está quase pronto, é só um minuto, concerteza, desculpe, estava distraído, é para já, só um minuto, um minutinho apenas… estou quase, quase!
2 comentários:
Parece que alguém, de repente, tem que fazer a pergunta: e onde está a liberdade porra !!??
Talvez esteja a esconder-se dentro de nós. Talvez...
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