domingo, 19 de outubro de 2008

Esburacados

Os textos e as imagens que se seguem foram enviadas por João Gaspar para o catálogo da exposição "Seis Cadeiras e uma Mesa". São assim:


João Gaspar, nascido em 1981, desde muito novo nutre um certo fascínio pela imagem fixa, e pelas matérias físicas que permitem a sua realização, devendo-se possivelmente ao contacto que desde muito cedo teve com estes objectos.
Com aproximadamente doze anos de escola e entre leituras, viagens, exposições, encontros, conversas, tédio, comida, dormidas e noites mal dormidas, eis que se desenvolve um amor, uma mania e uma doença que se dá pelo nome de Arte.
Ingressa na faculdade de Belas-artes da Universidade de Lisboa onde adquire a licenciatura em Artes Plásticas/Pintura.
Desde esta altura e em parceria com alguns artistas participou em diversas exposições realizadas na cidade de Almada. Paralelamente, desenvolve uma colaboração com a galeria Arte Periférica onde já realizou duas exposições até à data.

Série: Esburacados

Um buraco pode-se definir como sendo uma falta física, é algo que se caracteriza através do que não é. Procurar a materialidade deste conceito é encontrar uma ausência.
Um Buraco é uma espécie de vazio material, mas nessa aparente falta dá-nos a ver algo que de outro modo não se veria e que apenas nos surge mediante essa ausência.
Deste modo é uma falta de matéria e um preenchimento com as expectativas que abre, simultaneamente é uma falta de algo e uma abertura para um outro algo. Ao mesmo tempo que retira, coloca. A abertura, ou o acesso a este lugar de possibilidades – o lugar do outro - é nos dado paradoxalmente pela supressão, isto é através da constatação de uma falta.
A ideia de buraco aparece-me como um paradigma da própria representação, sendo que re-apresentar é tornar presente na mente de quem vê, por algum meio, algo que não está presente, mas sim ausente.

Estas peças foram concebidas em diferentes alturas, mas a decisão de reuni-las num só conjunto expositivo deve-se ao facto de estas – umas de um modo mais explícito que outras – girarem em torno de uma mesma temática: os buracos.
O modo de abordar e explorar este conceito diverge, sendo que há peças, onde aparecem representados objectos, que por si só contêm uma identidade esburacada, isto é, os orifícios fazem parte da definição destes corpos, noutras surgem objectos esburacados, mutilados, numa espécie de perda de identidade. A profundidade também difere, suscitando diferentes emoções e interpretações. Se por um lado pode haver um vazio angustiante de um interior de uma carapaça de caranguejo por outro uma misteriosa sensação pode ser convocada por uma toca profunda.
Série: Esburacados
Óleo sobre tela
100x100cm
2004
Série: Esburacados
Óleo sobre tela
70x50cm
2004
Série: Esburacados
Óleo sobre tela
40x30cm
2004
Série: Esburacados
Pastel de óleo sobre papel
32,5x25cm
2006
Série: Esburacados
Acrílico sobre tela
100x80cm
2007

Série: Esburacados
Colagem de papel e acrílico sobre tela
70x60cm
2007

terça-feira, 14 de outubro de 2008

David Castanheira em "6 cadeiras..."

Trabalhos de David Castanheira para "6 cadeiras e 1 mesa".




Iluminismo Popular


“Pela Boca Morre o Peixe”


técnica mista (acrílico, grafite e colagens) sobre mdf, 60x30cm



“Disse-me um Passarinho”


técnica mista (acrílico, grafite e colagens) sobre mdf, 60x30cm





“Mais Vale um Pássaro na Mão que Dois a Voarem”


técnica mista (acrílico, grafite e colagens) sobre mdf, 60x30cm







“Concílio da Páscoa/ Burocracias”



técnica mista (acrílico e grafite) sobre papel, 118,8x84,1cm


“Então e os Ovos?”

técnica mista (acrílico e grafite) sobre papel, 240x92cm



“Snapshot”


“FLASH!”
técnica mista (acrílico e grafite) sobre papel, 118,8x84,1cm

“Knock”

técnica mista (acrílico, grafite e impressão) sobre papel, 125x86,5cm



“Out”

técnica mista (acrílico, grafite e impressão) sobre papel, 125x92cm

domingo, 12 de outubro de 2008

Cadáver Aflito (painel)





Dezenas de desenhos de tamanho A3 organizados em painel de dimensão variável.
Cada desenho é um átomo do corpo global que constitui o painel.
A forma como os átomos se conjugam e organizam é sempre diferente.
Assim, o corpo resultante dessa organização possuirá características próprias e diferentes das que teve da última vez.
Cada nova exposição, cada novo painel, terá um aspecto semelhante ao anterior mas obrigatoriamente diferente.
Trata-se de uma regeneração (ou degenerescência) do corpo anterior.
Com novos átomos que se misturam nos antigos.
E por aí fora, crescendo como um fungo, parasitando o espaço, oferecendo-se de novo e mais uma vez ao olhar eventual que irá completá-lo.
O observador irá ser infectado pelo painel através da mera observação.


Trabalho de Rui Silvares.



terça-feira, 7 de outubro de 2008

Chute d'Organes (Tríptico)

O tríptico de Filipa Rebordão, a expor na "Seis Cadeiras e Uma Mesa", conjuga dois meios de expressão plástica que, aparentemente, travam uma batalha mortífera no campo da arte contemporânea. O painel central, executado na tradicional técnica pictórica (com pincéis e tinta acrílica), coabita com dois loops em registo vídeo a servirem de painéis laterais.






CHUTE D’ORGANES
2008
painel central, acrílico sobre tela 119 x 246 cm
vídeos laterais, loop, dimensões variáveis
A SAGRAÇÃO DA CARNE
Ao gritar o suporte visceral nascido de imagens sacras, confiro ao silêncio espectral das imagens uma auto-suficiência sonora que ecoa internamente no Si. Liberto dum corpo cristão forças reprimidas bombeadas através de filtros pulsionais, até terem dimensão in-visível em mim, no meu ser-obra. Chute d’organes reflecte uma série de reflexões e novas visualidades a partir do painel seiscentista Martírio de São Sebastião, proveniente da oficina do pintor régio Gregório Lopes. No painel original, o Santo é o ideal e belo senhor do mundo, com total domínio das suas contradições internas, criado para prestar reverência e servir Deus como forma de salvar a alma. O seu espírito materializa o divino. Este idealismo e formalismo renascentista mesclado com frieza e falseado maneirista, permitem-me conferir-lhe uma nova concepção de corpo. Ao mártir, que sobre o pedestal exala os últimos sopros de vida com um sorriso humilde e resignado, confere-se um valor espiritual à dor física, porque a alma tem por vezes dó do corpo. Conferi o mesmo tipo de iluminação interior ao Santo que se descobre noutra condição e noutro lugar a todos oculto. Trata-se de uma ténue passagem revelada pela in-carnada luz, acontecimento do Ser Nada. Crio um corpo desumanizado pela violência externa, corpo humilhado e passivo para exprimir o sagrado, numa lógica de sistema aberto onde existem trocas de matéria e energia entre o corpo e o exterior. Tomo ainda, à maneira cristã, o homem como criatura cujo único objectivo é a obtenção da salvação eterna através de uma lição de sacrifício e sofrimento. Concebo um corpo para a morte. Corpo sem órgãos, em pose, esperador, sedento de ser e de-vir a ser em si.
Filipa Rebordão

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sara Bichão


Sequência de imagens dos trabalhos de Sara Bichão para a exposição Seis Cadeiras e Uma Mesa. Paredes e portas em dimensão real. Superfícies saturadas de sinais. Reminiscências do nosso quotidiano. Mensagens codificadas ou puro caos?


parede n.1
1,04 x 1,78 x 0.16 m. Técnica mista.
Produção de parede: Cimento, esferovite, cola de esferovite.




porta n.1

2,26 x 0,76 x 0,04 m. Técnica mista.




porta n.3
(pormenor)
2,15 x 0,84 x 0,035 m. Técnica mista.