Há uns quantos anos atrás, andava eu entusiasmado com a criação teatral, um crítico, o saudoso Manuel João Gomes (Deus o guarde em bom lugar), depois de assistir à estreia da peça da minha autoria, "Quantos dias faltam para que ontem faça parte do futuro", disse a alguém, que depois me contou, que não percebia se eu era comunista ou fascista.
eu e o Julião a observar o "Principezinho"
Ontem, enquanto montávamos esta singela exposição, intitulada "Pecados ligeiramente mortais", o Dear Zé (ali na foto comigo) ironizava com a minha possível veia católica, ou coisa que o valha.
Já não sou nenhum adolescente, caraças, e, no entanto, as coisas que exponho continuam a deixar uma imagem difusa de mim próprio. Penso que isso se deve ao facto de considerar que os objectos que produzo (que produzimos) são diferentes daquilo que sou (que somos), embora, por vezes, possamos ser confundidos uns com os outros, os homens com os objectos que criam. E vice-versa.
eu e o Ivo a montar a exposição
No fundo, no fundo, pensando um pouco sobre o assunto, concluo que não passo de um provocador. Se há coisa que temo é que o resultado do meu trabalho possa deixar os espectadores (os observadores) indiferentes. Por isso, quando crio uma imagem, tento fazer com que seja algo parecido com uma pedrada, um grito nos ouvidos ou então, mais suavemente, que seja um momento de suspensão e comunhão entre quem vê e aquilo que é visto.
o Julião, o Miranda e a minha careca em plena actividade
Tenho por verdadeiro que os objectos não existem a menos que sejam vistos. Uma coisa pode estar ali e, caso não seja olhada, é como se não estivesse. Existe, não existindo. Mas, quando o observador se apercebe do objecto e o olha, então o contacto tem de ser efectivo, violento, de preferência. A coisa tem de mexer com o ser humano, caso contrário não merece ser coisa, arrisca-se a não ser quase nada.
o Zé Luís, o Julião (de copo em riste) e a Paula Rosa em pleno esforço de montagem
"Pecados ligeiramente mortais" é um conjunto de 13 trabalhos recentes (10 colagens em photoshop e 3 pinturas-colagens). Estão ali, na Parede, para serem vistos e pretendem interpelar o observador. Os títulos sugerem sentidos de leitura mas, o verdadeiro significado de cada um daqueles objectos está dentro de quem os observa.
"Olha-me este idiota" uma das peças expostas
É só isso.
As fotos são do Paulo Nunes, um cidadão exemplar, e as molduras emprestou-mas o Zé Julião, outro cidadão que ultrapassa largamente a exemplaridade.