CHUTE D’ORGANES
2008
painel central, acrílico sobre tela 119 x 246 cm
vídeos laterais, loop, dimensões variáveis
painel central, acrílico sobre tela 119 x 246 cm
vídeos laterais, loop, dimensões variáveis
A SAGRAÇÃO DA CARNE
Ao gritar o suporte visceral nascido de imagens sacras, confiro ao silêncio espectral das imagens uma auto-suficiência sonora que ecoa internamente no Si. Liberto dum corpo cristão forças reprimidas bombeadas através de filtros pulsionais, até terem dimensão in-visível em mim, no meu ser-obra. Chute d’organes reflecte uma série de reflexões e novas visualidades a partir do painel seiscentista Martírio de São Sebastião, proveniente da oficina do pintor régio Gregório Lopes. No painel original, o Santo é o ideal e belo senhor do mundo, com total domínio das suas contradições internas, criado para prestar reverência e servir Deus como forma de salvar a alma. O seu espírito materializa o divino. Este idealismo e formalismo renascentista mesclado com frieza e falseado maneirista, permitem-me conferir-lhe uma nova concepção de corpo. Ao mártir, que sobre o pedestal exala os últimos sopros de vida com um sorriso humilde e resignado, confere-se um valor espiritual à dor física, porque a alma tem por vezes dó do corpo. Conferi o mesmo tipo de iluminação interior ao Santo que se descobre noutra condição e noutro lugar a todos oculto. Trata-se de uma ténue passagem revelada pela in-carnada luz, acontecimento do Ser Nada. Crio um corpo desumanizado pela violência externa, corpo humilhado e passivo para exprimir o sagrado, numa lógica de sistema aberto onde existem trocas de matéria e energia entre o corpo e o exterior. Tomo ainda, à maneira cristã, o homem como criatura cujo único objectivo é a obtenção da salvação eterna através de uma lição de sacrifício e sofrimento. Concebo um corpo para a morte. Corpo sem órgãos, em pose, esperador, sedento de ser e de-vir a ser em si.
Ao gritar o suporte visceral nascido de imagens sacras, confiro ao silêncio espectral das imagens uma auto-suficiência sonora que ecoa internamente no Si. Liberto dum corpo cristão forças reprimidas bombeadas através de filtros pulsionais, até terem dimensão in-visível em mim, no meu ser-obra. Chute d’organes reflecte uma série de reflexões e novas visualidades a partir do painel seiscentista Martírio de São Sebastião, proveniente da oficina do pintor régio Gregório Lopes. No painel original, o Santo é o ideal e belo senhor do mundo, com total domínio das suas contradições internas, criado para prestar reverência e servir Deus como forma de salvar a alma. O seu espírito materializa o divino. Este idealismo e formalismo renascentista mesclado com frieza e falseado maneirista, permitem-me conferir-lhe uma nova concepção de corpo. Ao mártir, que sobre o pedestal exala os últimos sopros de vida com um sorriso humilde e resignado, confere-se um valor espiritual à dor física, porque a alma tem por vezes dó do corpo. Conferi o mesmo tipo de iluminação interior ao Santo que se descobre noutra condição e noutro lugar a todos oculto. Trata-se de uma ténue passagem revelada pela in-carnada luz, acontecimento do Ser Nada. Crio um corpo desumanizado pela violência externa, corpo humilhado e passivo para exprimir o sagrado, numa lógica de sistema aberto onde existem trocas de matéria e energia entre o corpo e o exterior. Tomo ainda, à maneira cristã, o homem como criatura cujo único objectivo é a obtenção da salvação eterna através de uma lição de sacrifício e sofrimento. Concebo um corpo para a morte. Corpo sem órgãos, em pose, esperador, sedento de ser e de-vir a ser em si.
Filipa Rebordão
4 comentários:
a ideia de incorporar vídeo numa pintura é interessante, recordo-me que o primeiro trabalho do linch foi uma pintura animada em vídeo, obra fundadora de um homem de imaginário fascinante. Curioso no texto da tua aluna as terminologias deleuzianas. Pressinto um professor dotado por detrás destes jovens trabalhos. :)
queria enviar-te um texto interpretativo de uma pintura do brueghel, vem de volta por ser pesado, tens mais algum endereço sem ser hotmail?
abraço
João, esta senhora é minha ex-aluna. O trabalho que desenvolve actualmente é da sua inteiríssima responsabilidade e com marcas de uma individualidade que foi sempre muito marcada. Nos tempos que correm já leva uns anos de Belas-Artes e prepara-se agora para viajar até Itália no programa Erasmus. É claro que é com imenso prazer que olho para este género de trabalho. Não escondo que há mesmo uma pontinha de orgulho. Mas isso é um mero reflexo da minha vaidade. Uma das frases que gosto de lembrar nas aulas é a que diz "fraco o aprendiz que não ultrapassa o mestre." Mas nem sempre a utilizo, só quando me parece que vale a pena.
Quanto ao texto, caramba! O hotmail não é suficiente? Não tenho outro endereço.
o texto é estupidamente pesado e não consigo zipar, de qualquer das formas quando estivermos juntos levo-te imprimido.
Conheçes este site de arte sacra?é fabuloso
www.wga.hu
Sim. Esse site faz parte dos meus favoritos há uns anos. Por vezes perco-me por lá.
:-)
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