domingo, 14 de agosto de 2011

O equívoco

O principal problema que nos é oferecido pelo legado de Duchamp é que um imbecil que olhe o A Fonte irá dali construir um monumento à sua própria imbecilidade. Pouco mais verá que um objecto no qual se deveria mijar mas que deixou de cumprir o seu desígnio industrial. Essa constatação poderá fazê-lo sorrir, mas esse sorriso será sempre um sorriso imbecil o que o conduzirá perigosamente à beira de um riso alarve, eco maior do silêncio absoluto em que cai, neste género de situações, a inteligência humana.

Duchamp foi um inventor, um cientista da arte, alguém que conduziu dellicadas experiências estéticas, uma espécie de Doutor Frankenstein a explorar as possibilidades de construir um corpo plástico potencialmente belo a partir da aglomeração de objectos declaradamente destituídos de beleza. Perante as suas criações artísticas, o observador vê-se confrontado com a tentação de encontrar uma solução para probemas onde as soluções não existem.

Cada tentativa de encontrar uma resposta plausível para um objecto "duchampeano" não consegue mais do que abrir um buraco. Mais um buraquinho apenas. Nada mais do que um buraco. E cada um destes buracos pode (ou não) estender-se num pequeno túnel exploratório. O observador desavisado mais não é que uma toupeira em busca de uma saída para a luz. E todos sabemos o que acontece aos olhos da toupeira quando contacta directamente a luz do sol.